sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Hachiko...uma história de lealdade





"Hachi - A Dog's Story" é um filme baseado em factos reais e que me deixou emocionada. Fez-me sentir vontade de ir a casa abraçar o meu cão. Fez-me sentir aquele nó na garganta, fez-me pensar nas vezes que o deixo sozinho, quando podia estar comigo (mesmo a cheirar mal). Se ele consegue suportar tudo em mim, porque não posso suportar durante um bocado o cheiro dele quando está sujo? Quantas vezes ele já esteve comigo e suportou-me, quando eu estava mesmo "porca" da cabeça aos pés...Pois é. Ele ama-me incondicionalmente e eu não tenho feito o mesmo em relação a ele.
Este foi um filme que me fez pensar e acredito que toda a gente que o viu e verá, pensará também no amor e lealdade que os animais conseguem ter para com os seus donos e quem sabe passarão a dar-lhes mais valor.
Esta é uma história que começa em 1924, em que Hachiko foi trazido para Tóquio pelo seu dono Hidesaburo Ueno, um professor do departamento de agricultura da Universidade de Tóquio.
O professor Ueono, que sempre adorou cães, deu-lhe o nome de Hachiko (diminuitivo Hachi).
Hachiko acompanhava Ueono desde a porta de casa até à estação de comboios de Shibuya, que não ficava muito longe de casa e voltava ao final do dia para acompanhá-lo até casa.
A visão dos dois, que chegavam à estação de manhã e voltavam juntos para casa, à noite, impressionava profundamente os transeuntes.
A rotina continuou até Maio do ano seguinte, quando numa tarde, o professor não voltou, como era habitual.
A vida feliz de Hachiko foi interrompida por um acontecimento muito triste, apenas um ano e quatro meses depois. Ueno sofrera um AVC na Universidade naquele dia.
No dia 21 de Maio de 1925 o professor sofreu um derrame súbito durante uma reunião e morreu. A história diz que na noite do velório, Hachiko que estava no jardim, partiu a porta de vidro da casa e fez o seu caminho até à sala, onde estava o corpo e passou a noite deitado ao lado do seu mestre, recusando-se a ceder.
Outro relato diz que na altura de serem colocados vários objectos particularmente amados pelo falecido no caixão, com o corpo, Hachiko pulou para dentro do caixão e tentou resistir a todas as tentativas de removê-lo.
Mas é depois disto que a parte realmente triste da história começa.
Depois que seu dono morreu Hachiko foi levado por familiares para viver em Asakusa, a leste de Tóquio, mas ele fugiu várias vezes e voltou para a sua antiga casa.
Depois de ter passado 1 ano e ele ainda não ter-se acostumado à sua nova casa, foi dado ao ex-jardineiro do professor Ueno que já conhecia Hachi desde que era cachorrinho, mas não adiantou de nada, porque voltou a fugir.
Só quando se apercebeu que o seu dono já não morava na antiga casa é que passou a ir esperá-lo todos os dias, fora da estação de comboios, à espera que ele voltasse para casa.
Todos os dias ele ia e procurava a figura do seu dono entre os passageiros, saindo só quando as dores ou a fome o obrigavam. Essa foi a sua rotina, dia após dia, ano após ano.
A figura permanente do cão à espera do seu dono, atraiu a atenção de algumas pessoas. Muitos deles frequentadores da estação de Shibuya, que já o tinham visto com o professor, ficaram tocados e passaram a trazer petiscos e comida para aliviar a sua vigília.
Por 10 anos contínuos Hachiko aparecia ao final da tarde, precisamente no momento do desembarque de passageiros na estação, na esperança de reencontrar-se com o seu dono.
Uma foto de Hachiko apareceu numa enciclopédia sobre cães, publicada no exterior.
No entanto, quando um grande jornal nacional assumiu a história de Hachiko, todo o povo Japonês ficou a saber sobre ele e tornou-se numa celebridade.
A sua devoção à memória de seu mestre impressionou o povo Japonês e tornou-se modelo de dedicação à memória da família. Pais e professores usavam Hachiko como exemplo para educar as crianças.
Em 21 de Abril de 1934, uma estátua de bronze de Hachiko, foi erguida em frente ao portão de bilheteira da Estação de Shibuya, com um poema gravado num cartaz intitulado "Linhas para um cão leal".
Mas essa fama repentina pouca diferença fez na vida de Hachiko, pois ele continuou exactamente da mesma maneira.
Todos os dias ele partia para a estação e esperava lá pelo professor Ueno para voltarem para casa. Em 1929 ele tinha contraído um caso grave de sarna que quase o matou.
Devido aos anos passados na rua, ele estava magro e com feridas das lutas com outros cães.
Uma das suas orelhas já não se levantava e estava com uma aparência miserável.
Não parecia aquela criatura forte que tinha sido. Podia ser confundido com qualquer cão rafeiro.
Envelheceu, tornou-se muito fraco e sofria de problemas no coração (heartworms).
Na madrugada de 8 de Março, com 11 anos, apareceu morto numa rua lateral à estação de Shibuya.
No dia 8 de Abril é realizada uma cerimónia solene na estação, em homenagem, à história do cão leal.
A lealdade dos cães da raça Akita já era conhecida pelo povo Japonês há muito tempo. Numa certa região do Japão, são incontáveis as histórias de cães desta raça que perderam as suas vidas a defenderem a vida dos seus donos.
Onde quer que estejam e para onde quer que vão, têm sempre um dos olhos voltados para aqueles que cuidam deles. Por causa desse zelo, o Akita tornou-se Património Nacional do povo Japonês, tendo sido proibida a sua exportação.
Se algum proprietário não tiver condições financeiras de manter o seu Akita, o governo Japonês assume a sua guarda.
Mas termino dizendo que não são só os Akita que têm essa capacidade de lealdade, de protecção, de amor incondicional.
Muitos animais têm essa capacidade. Quase todos, aliás.
E espero que esta história toque muitos corações e que pensem no sofrimento dos animais que são abandonados pelas famílias, que deitam fora essa lealdade e a possibilidade de verem esse amor incondicional.
Um amor verdadeiro e incondicional nunca morre e os animais têm-nos mostrado isso ao longo dos séculos. Não é só o Hachiko que é um herói.
Existem milhões de heróis como ele, só que infelizmente não foram todos condecorados pela sua coragem e lealdade.
A todos esses, eu baixo a minha cabeça, em reverência, porque a merecem.
E sabendo que existem seres humanos que não merecem qualquer reverência, por não saberem o que é ter um sentimento de protecção e amor para com os outros, a todos esses, digo-lhes que aprendam ao ver um testemunho como este e não endureçam mais o coração, porque...
Porque as histórias de amor valem sempre a pena serem contadas e vale a pena dar amor sem esperar nada em troca.
A recompensa chega sempre...

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