sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Liberdade...


Já me disseram que esta foto merecia um prémio...
Sim, realmente conseguiram captar um momento feliz!
Eu e as minhas irmãs a fazermos uma coisa que adorávamos fazer, mesmo com algumas experiências de joelhos esfolados!
Corríamos pela estrada abaixo a grande velocidade e dávamos aqueles saltinhos típicos de crianças, que por momentos nos faziam sonhar que podíamos voar sozinhas...
A minha mãe por vezes tinha a mania de fazer vestidos iguais para as três e nem somos gémeas!
Naquele tempo podíamos vestir qualquer coisa e não perdíamos tempo a olhar para o espelho. Nem nos passava pela cabeça que alguém poderia criticar seja o que for. As nossas vidas estavam demasiado ocupadas com sonhos de criança.
Levávamos coisas para o meio do mato e fazíamos a nossa casa. Até uma vassoura levávamos e nem havia muito para varrer, tirando um monte de folhas misturadas com terra.
Fingíamos tanta coisa...e a imaginação não parava! E no dia seguinte, já tínhamos a agenda cheia de ideias outra vez!
À medida que fomos crescendo, a magia das casas no meio do mato foi perdendo a piada e voltámo-nos para o mar.
Éramos as sereias do local. Passávamos horas dentro de água, talvez na esperança de começarem a aparecer escamas...
Levávamos pão para dar aos peixes e com uns sacos de mercearia ainda apanhámos muitos, mas acabávamos unânimemente por deixá-los voltar para a sua casa.
Afinal, se fossemos peixes, gostaríamos de viver dentro de um saco de plástico? Pois...claro que não!
Agora lembrei-me das vezes que passei vergonha, ao ver a minha mãe a aparecer por detrás das rochas e descer as escadas até à piscina, vermelha, furiosa, porque ainda não tínhamos ido para casa! E o pessoal olhava e nós a tentarmos disfarçar, passarmos despercebidas, mas sem resultado. Era mesmo a nossa mãe e tínhamos que voltar para a realidade de sermos crianças e não sereias sem pai nem mãe.
Mas ainda bem que ela aparecia. A verdade é que a nossa vontade de ir para casa era pouca.
Bolas, eram 2 km sempre a subir, a pé!
Quem tinha vontade disso?! A descer todos os santos ajudam!
Os atalhos foram durante algum tempo a solução, mas logo por azar, eram ainda mais enclinados!
Passámos a ir pela estrada e algumas vezes ainda tínhamos a sorte de alguém parar para nos dar boleia! É claro que só aceitávamos boleia de quem conhecíamos!
Até nos Açores os pais ensinam os filhos a não aceitarem facilidades de estranhos!
Olhando para trás, lembro-me de detalhes tais como ir comendo amoras que eram apanhadas pelo caminho e depois a minha irmã sair-se com "quero uma pizza!!!" e era isso que lhe dava forças para chegar a casa e não ficar sentada no meio da estrada, como uma desistente de uma maratona, mais morta que viva!
Apoiávamo-nos umas às outras nessas alturas críticas...
Em casa, nem sempre, sabem como é...guerras entre irmãs. Uma era sempre mais preguiçosa e as outras ficavam revoltadas com tanta injustiça!
Por isso é preciso aprender com essas recordações e tentar ser o mais justa possível. A minha mãe nem sempre o foi, mas ninguém é perfeito.
O trabalho dela está feito, já sou uma adulta e agora está na hora de ser eu a fazer esse trabalho com a minha vida.
Que um dia eu possa contar todas estas histórias aos meus filhos e um dia quero levá-los a sentir a aventura e emoção de andar como uma criança deveria poder andar.
Em liberdade para experimentar, para cair, para aprender...no meio da natureza, onde tudo é uma novidade, se soubermos aproveitar cada momento!

Sem comentários:

Enviar um comentário