quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A eterna mágoa...

Será que só quando morrerem é que poderei realizar alguns dos meus sonhos?
O casar num lugar lindíssimo, vestido de tirar a respiração ao noivo (esses realizarei com eles ou sem eles), mas ter dinheiro para ir ao ginásio todas as semanas, ter um carro novo (sem buracos), viajar para lugares onde nunca pensei ir, ter sempre dinheiro no banco para fazer as minhas comprinhas, poder convidar amigos para jantarem e não ficar com vergonha por não ter cadeiras suficientes, ver os meus filhos crescer com os pais felizes? Será que vou poder ter tudo isso antes de chegar aos 60?
Estão no Brasil e nem me ligam a perguntar como eu estou, a minha mãe aparece na net para me dizer que tem o corpo dorido porque teve a tarde toda a receber massagens para lhe tirarem a celulite, gasta centenas de reais em cada sessão (não me disse o valor, mas presumo) e ao dizer-me isto será que deva sentir respeito pela minha mãe, de 50 anos que só agora é começou a se preocupar com a celulite que tem no rabo e não pergunta se a sua filha (que está do outro lado do mundo) precisa de alguma coisa, nem que seja uma sessão de massagens igual?!
O meu pai usa os seus últimos anos de saúde a trabalhar, a viajar (em trabalho), a criar empresas e empreendimentos e diz a toda a gente que é pelos seus filhos que o faz, para não morremos todos um dia à fome. Linda frase esta, não é? Dizer isto a um desconhecido é quase como dizer que tem filhas burras, que não sabem fazer nada. Não mostra respeito, por isso como poderá dizer que nos ama? É possível amar-se e não sentir-se respeito? Acho que não...
Antigamente era-se criado a pensar que a paternidade acabava-se no momento em que o filho saía de casa. "Vai à sua vida", podiam pensar neles, que não devem intrometer-se mais e deixá-los viver com abundância e até mesmo com dificuldades. É a vida!
Já fizeram o que tinham a fazer e agora que se desenrasquem! É uma boa teoria, mas na prática causa muito sofrimento, especialmente quando não souberam ensinar-nos a viver sozinhas. Sempre fizeram de tudo para não sairmos debaixo do controle deles, impediram-nos de viver o que tínhamos que viver para amadurecer, conhecer a vida como ela é.
Mas mesmo assim, o pontapé está dado e pronto. "Nada de arrependimentos", pensarão eles. "Fizemos o melhor que sabíamos e podíamos"...e agora é a nossa vez de viver!
Acho muito bem, mas podiam estar a viver uma vida desafogada aqui, mas perdeu o amor a isto, a Portugal, à sua terra. Nem mesmo o facto dos filhos não quererem ir com ele o fizeram mudar de ideias. As prioridades dele, a racionalidade e desejo de se salvar eram superiores a qualquer coisa...
Aqui ele não sobreviveria sem que o "karma" o apanhasse forte e feio, então foi para o Brasil.
Lá é mais fácil fugir? Mas ao "karma" ninguém foge. Há a justiça Divina e essa é sempre feita.
Tenho família aqui, mas é como se não tivesse. Nem um telefonema, nem pelo Natal. O respeito por mim não é muito, como também já foi provado. Incrivelmente todas as pessoas que realmente gostam de mim não são da minha família.
Quando tive um acidente e parti a perna, ninguém da minha família me foi ver ao hospital. A minha mãe só foi para deixar-me roupa e para me ir buscar, 3 semanas depois. O meu pai não pôs lá os pés. Não gosta de hospitais (disse a minha mãe).
Tive visitas de amigos, até ex namorado, mas as pessoas que mais queria ver, essas não conseguiram estar ao meu lado. Suportei dores horríveis que me faziam desfalacer, a pele esbranquiçava, mas no entanto as lágrimas só cairam de tristeza e não por causa da dor...
Tenho a mãe que adoptei pouco antes de partirem, que cuidou de mim 3 meses quando parti a perna, que apesar dos seus 70 anos, foi incansável e às vezes parecemos irmãs a conversar. Nunca a vou esquecer e o que fez por mim...
Mas mesmo assim termino dizendo que as únicas coisas que me prendem a esta ilha é ela e o facto dela e esta ilha existirem fisicamente e no meu coração! O seu carinho por mim e pela minha filha, o verde, a vista para o Pico, os cheiros, as estradas que conheço quase de cor...as recordações que guardarei como quem guarda um tesouso! E um dia escreverei todas elas...

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