sábado, 13 de março de 2010

Sentir paz num lugar...




Ao verem estas fotos aposto que conseguem imaginar o que sentiriam...
Infelizmente não conseguem ouvir os sons, porque aí conseguiriam perceber porque vou ter tantas saudades desta ilha.
O silêncio, o som do mar ao longe ou então perto, os pássaros, o cumprimento de uma vaca quando nos vê, o ar fresco e saboroso, porque quase o conseguimos provar. As cores dos campos, a cor do mar, tudo é natural e lindo, pelo menos para mim.
Nasci e cresci aqui. Todas as recordações, boas e más, foram aqui que nasceram.
À medida que os dias passam, as saudades apertam, porque sei que terei de me despedir...
Não só desta ilha, mas de pessoas que são muito queridas para mim.
Aquelas poucas que sempre foram minhas amigas...
Sei que um dia voltarei, mas até esse dia chegar, vou tentar ser alguém cujo coração é Açoreano, mas cujo corpo vagueia por Lisboa...e que está apenas a tentar ser feliz.
Antes, a única coisa que me fazia sorrir era estar nesta ilha, o orgulho que eu sentia de a conhecer, de ter andado descalça pelos campos, ter apanhado muitas flores e verificar sozinha que depois de as arrancar, que no ano seguinte elas acabavam por nascer outra vez...
Acordava com um galo da minha vizinha a cantar e só depois o despertador tocava. Quando saía de casa para ir para a escola, muitas vezes ainda era noite. Subia a rua a pé e olhava para o céu cheio de estrelas. Cheguei a ver estrelas cadentes...e esperar 1h sentada, a olhar para o céu a clarear. Só aí é que as pessoas começavam a chegar à paragem de autocarro. Eu era sempre a primeira a chegar. Isso é quase um facto histórico na minha freguesia.
Ah...e o som ensurdecedor dos grilos no Verão, que não me deixavam dormir. Os continentais acham-lhes piada. São sons diferentes do que estão habituados, talvez.
E os cagarros ( parecidos com gaivotas, mas são cegos durante o dia). Aparecem à noite e fazem barulho bastante. Coitados do que vivem perto do mar. "Aua...aua...aua...aaaaaaaaah!!!"-e não é baixinho! Quando ia acampar perto do mar, tinha que por uma almofada em cima da cabeça, para abafar o som...e sabe-se lá quando é que conseguia adormecer.
Clima húmido, muito húmido. Só quem vive aqui há muitos anos é que consegue não reparar nisso. Há pessoas que chegam aqui e sentem o ar pesado e até dificuldade em respirar (os que têm problemas respiratórios não devem estar aqui muito tempo).
Eu não vejo diferença nenhuma. Os meus pulmões habituaram-se a isto.
É tudo uma questão de hábito, acho eu. Assim como terei que me habituar ao cheiro do fumo dos carros, aos apitos (por tudo e por nada), a cara de stress das pessoas a segurar o volante do carro e pensativas...provavelmente a pensar que não sabem o que fazer para serem felizes ou para terem um pouco de paz e fugir à rotina do dia a dia.
É uma ilusão minha dizer que essas coisas não me irão afectar. Sei que existirão dias que vou estar tão em baixo que nem o chegar a casa e ter todos os meus amores à minha espera me irá animar. Sei disso e espero que eles não levem a mal. É uma transformação grande que terei passar, mas a minha alma continua a mesma.
Alma de menina que talvez não tenha crescido tudo...e talvez gostasse de continuar a ser menina, mas é-lhe impossibilitada essa escolha. Para onde vai, ela não pode ter a mesma doçura e a mesma ingenuidade.
Terá de aprender muito ainda...
"Onde vos retiver a beleza de um lugar, há um Deus que nos indica o caminho do espírito" - Natália Correia

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