sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O meu adeus...




Não levei flores, não tive tempo. Mal soube, corri para a casa onde tu estavas. Estavas num caixão, coberto de flores lindíssimas. Parecias tão pacífico. Todos te tocavam e te beijavam como se ainda ali estivesses. De certa forma estavas. O teu corpo. A tua alma porém, já estava num lugar de paz e de alegria. 
Foi muito difícil para mim ver-te ali, deitado, sem vida. A tua família estava destroçada, saudosa, como se lhe tivessem tirado um bocado do coração naquele momento...e se a mim doeu, imagino o que não lhes está a doer agora. Eu sei que tu sabes que estas coisas custam sempre e que as saudades são uma coisa que provavelmente irão sentir até partirem para perto de ti.
Não eras minha família de sangue, mas eras de coração. E no teu coração eu também sei que era especial para ti. Lembro-me das vezes que comi sentada ao teu lado e falavas pouco. Mastigavas, bebias, olhavas para mim e para a tua mulher e escutavas com atenção o que falávamos.
Sei que terias uma opinião sobre o que estaríamos a dizer e pensavas profundamente naquilo, mas não dizias nada. Simplesmente pensavas e pensavas...
Talvez pensasses no quanto era injusto o que se estava a passar, no quanto tudo seria diferente se eu tivesse uma família como a tua, se te tivesse tido como pai ou avô...
Ontem foi um dia difícil para mim, pai...avô...Mário. O teu silêncio desta vez é permanente, não é só por algum tempo. Não posso esperar ouvir a tua voz ou ver-te sentado no sofá a ver televisão. Sim, vou ter saudades da tua presença silenciosa e calmante. 
Cada vez mais me capacito que não é o sangue que faz uma família. É o amor que se dá, que é dado...e felizmente tu sempre nos deste a todos a quem conheceste, o teu amor. À tua maneira, simples, sem complicações. Sim, segundo sei também resmungavas, também tinhas os teus dias maus, mas até esses, segundo me foi dito, eram perfeitamente suportáveis, pois não conseguias ficar chateado muito tempo. És como eu nisso...
Com o tempo aprendi que de nada vale ficarmos a remoer o que já passou. É uma coisa que nos mata por dentro, destrói as nossas emoções e a nossa vontade de viver...
É verdade que há muitas pessoas que só se sentem bem vendo os outros no mesmo estado que eles, com as mesmas preocupações, com as mesmas ambições. Se soubessem o quanto isso é disparatado, cavariam um buraco para se esconder!
Apesar de ter descansado, sinto que dormia o dia todo. Continuo a precisar de energia. Sinto que fui sugada ontem. Ver toda aquela dor, todas as lágrimas, aguentar-me para não chorar, querer que nada daquilo estivesse a acontecer, embora soubesse que mais cedo ou mais tarde iria acontecer, ser egoísta e altruísta tudo ao mesmo tempo...
Por isso é que na cerimónia religiosa o pastor disse: Sabem porque a morte nos afecta tanto? Sabem porque independentemente de ser uma pessoa nova ou idosa, ter morrido tragicamente ou de doença prolongada, nós nunca estamos à espera? Porque o ser humano não foi criado para morrer...
É é verdade. Hoje, deveríamos ser imortais no corpo e no espírito. Mas infelizmente entrou o pecado no mundo e o resultado foi ficarmos com um corpo mortal e que falha.
Espero que tu, pai e avô do coração, estejas a descansar e a passear por esse Jardim,no céu, lugar que Deus destinou para aqueles que são Dele.
Descansa em paz!




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